A nova muleta da nova geração.

2023 vem sendo um bom ano.
Com tudo o que vem acontecendo, as coisas vão mudando cada vez mais rápido, talvez mais rápido do que a nossa percepção no meio de tudo isso possa acompanhar.
Quem sabe, daqui há uns 20 anos, pararemos e olharemos para o agora, e talvez, saíbamos o que aconteceu.
O fato é que 2023 nos trouxe de presente — ou pelo menos popularizou — algo que eu jamais achei que pudesse ver, ou melhor, que jamais havia passado na minha cabeça, nem em ficção.
Em três meses, todo o canto só falava da mesma coisa. Em todo o canto, alguém se tornava especialista de algo recém chegado, prática comum na internet, tal qual vender curso sobre como viralizar com Threads, nova rede social do Instagram, 24 horas após o seu lançamento.

Como estava falando, o YouTube só dava isso. TikTok só se falava disso. Instagram?! Idem.
Mas nunca podemos menosprezar a capacidade brasileira de tirar proveito das coisas. Uma revolução enorme, assim como foi a chegada do Google na vida das pessoas, começava a ser usada como muleta.
Gurus de internet vendiam ensinando como ficar rico com isso, jovens e adolescentes usavam para colar em seus trabalhos de escola e universidades, como um novo método de trapaça mesmo.
Como eu falei, a gente não percebe as coisas acontecendo ao nosso redor… muita informação, muita novidade, mudança constante, rápida e brusca.
Mas em questão de três meses de 2023 fomos abençoados com uma inteligência artificial chamada ChatGPT.

Ele tem todos os dados possíveis da internet.
Internet essa que guarda mais informação do que qualquer outro lugar da história, sobre qualquer período da história documentada da humanidade.
Com uma simples pergunta você pode saber de coisas que aconteciam no início da Idade Média, no auge dos povos egípicios ou feitos da Era Moderna.
Mas o que o camarada gostaria de saber é “se o Lula é ladrão?” e quais são “os maiores times de futebol do Brasil”.
Talvez eu esteja sendo injusto, mas o que mais vi foi isso. Pessoas com uma capacidade jamais vista, gratuita e na palma da mão, usando de qualquer forma, menosprezando e até usando como forma de trapaça.
Se voltarmos nos tempos das enciclopédias, a gente vê o tamanho do avanço que cruzamos em questão de 30 ou 40 anos.

Alguém que precisasse de uma informação para um trabalho universitário, precisaria ir atrás de livros específicos sobre o tema, onde encontraria as respostas necessárias.
Ninguém tinha todos os livros com todas as informações em casa. Além de muita informação, são muitos livros que se renovam todos os anos e precisam ser trocados — quem teria grana suficiente para fazer isso, ano após ano? Poucos, poucos mesmo. E estou falando dos anos 80, ok?
Restava ir até uma biblioteca municipal ou da sua instituição de ensino e garimpar as informações nas enciclopédias oferecidas.
Tempo de deslocamento até lá, chegada, busca pela enciclopédia, leitura do sumário até encontrar a seção necessária, navegação pelas 10 páginas da seção até encontrar a informação e aí, pimba! Pode voltar para casa, feliz e com o trabalho feito.
Anos depois, evoluimos aos mecanismos de pesquisa digitais e posteriormente ao Google.

Em 1 minuto, você busca pelo que precisa, navega em três sites e encontra o que você estava procurando.
Olha a economia de tempo, esforço e dedicação que foi implatada com uma simples ferramenta de busca.
Agora, você faz uma pergunta, a máquina lê o que você escreveu, ENTENDE o que você escreveu, APRENDE mais cada vez que você escreve e te responde EXATAMENTE o que você precisa, no formato que você quiser que ela responda, na língua que você precisar e em menos de 10 segundos.
Percebe-se que antes o Google te dava opções que poderiam sanar suas dúvidas e pesquisas, agora o ChatGPT te entrega mastigado. Tudo o que você precisa, numa resposta que você precisa.
Se olharmos outras inteligências artificiais de busca, encontraremos o BingChat da Microsoft que segue o mesmo princípio, mas te responde com fontes, links e outras respostas que podem te agradar.
Estamos vivendo a era das ferramentas que podem nos deixar MAIS inteligentes de forma MAIS rápida e estamos perguntando se o Flamengo é o maior time do Brasil.

Mesmo não gostando dos coachs, eu vou ter que concordar: precisa mudar a mentalidade. Como falei anteriormente, posso estar sendo muito injusto? Claro. Mas é o que eu percebo.
Profissionais de escrita, produtores de conteúdo, infoprodutores digitais e experts têm tudo o que precisam para quebrar o bloqueio criativo, ficarem mais inteligentes e passarem mais informação a diante, de forma democrática e de graça — mas vão precisar saber usar.
Uma ferramenta que veio para agregar ao ser humano, e não para destituí-lo de algum posto, como alguns gostam de pintar por aí, vai conseguir destruir as pessoas mesmo, sem nem ter a intenção.
Quantos professores acharam que suas carreiras iriam para o ralo por conta do Google? Quantas carreiras foram realmente destruídas? Só as dos que quiseram e usaram como desculpa a inovação.
Pela primeira vez na história estamos caminhando para ter o fenômeno incrível de uma geração ser menos próspera, feliz e inteligente que a sua anterior.
E as inteligências artificiais só vieram para servir de muleta. Quem viver, verá.